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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Vulcão Láscar: O grande desafio!



28/04/2014: 

        4h35 o despertador toca avisando que é chegado o grande dia! Levanto da cama em um pulo, visto as roupas mais quentes que trouxe para a viagem, luva, gorro, cachecol. Reviso a mochila: água, hidratante labial, protetor solar facial, colírio, sorine, óculos de sol, barras de cereal e repositor energético. Tudo pronto!  
        5h15 a Nissan 4x4 encosta no portão do hostel e eu conheço Jorge, meu guia neste desafio. Seguimos para buscar os demais e logo estamos a caminho do grande vulcão com o grupo completo: eu, Tiago (Brasil), Marlon (Brasil) e Franz (Alemanha). Devido a presença de Franz, o idioma oficial no nosso coche era o inglês. (E eu consegui entender e falar, mesmo com meu inglês tupiniquim! ) 





       Andamos por um pouco mais de 2h, o dia amanheceu e houve uma parada estratégica para fazer xixi (no meio do nada do deserto!). Ok! Só havia eu de mulher no grupo e a primeira desvantagem foi anatômica. Então agradeci e disse que eu não precisava ir ao banheiro. Seguimos viagem e logo chegamos ao local onde seria nosso ponto de partida: 4800m de altitude. 
       Nesse momento, olhando para o vulcão imenso, pensei "de jeito nenhum vou conseguir subir de bexiga cheia". Enquanto o guia organizava o café da manhã eu disse: mira! Io voy hasta la piedra porque necessito un  baño! Mirem para lo otro lado se tenen amor por su vidas! E hablen en ingles para lo alemon! #partiuxixi Rsrsrs

       





       Bem,  tivemos um maravilhoso desayuno, mas o frio estava de lascar no pé do vulcão Lascar! Rsrsrs Então eu enrolei dois cachecóis no pescoço e em toda a cabeça, deixando só os olhos de fora atrás dos óculos! Naquele momento comentamos que o pior seria o frio uma vez que todos nós já havíamos feito outros passeios em altitude com perfeita aclimatação (aham! Senta lá Cláudia! Kkk).






       Antes da subida, o guia nos fala que a partir de agora seremos um grupo e como grupo andaremos sempre juntos. Que ele é o guia e a única pessoa que tomará as decisões. Que se alguém não se sentir bem, ele decidirá se a pessoa poderá voltar ao carro sozinha. Se ele decidir que estamos em perigo ou que alguém necessita de socorro médico, todos voltaremos ao carro e a expedição acaba naquele momento!  Avisa que normalmente faz a subida em 2h30, no máximo,  3h. Que quando atingíssemos 3h de caminhada, iniciaríamos a decida não importando até onde havíamos subido, porque o importante no montanhismo não é chegar ao topo e sim conseguir descer a montanha com vida! Explica que toda montanha é perigosa e que devemos desafiar a natureza sempre com respeito. E, por fim, disse que a subida que faríamos nesse pequeno espaço de tempo, poderia ser comparada com toda uma vida. Que na vida enfrentamos muitas coisas difíceis de serem transpostas, mas que nossa garra, dedicação e positividade frente aos problemas é que nos faria vence-los. E agora tínhamos uma caminhada muito difícil e que nossa mente deveria ser nossa maior aliada. Que o nosso desejo é que nos levaria ao sucesso. 

       E assim iniciamos a caminhada!



 Confesso que eu estava com muito medo. Olhava para o topo do vulcão, via a fumaça saindo da cratera e era lá que deveríamos chegar. Era muito, muito alto. Senti-me infinitamente pequena e isso deixou meu coração muito apertado. Mas pensei "vc não veio até aqui para desistir, né?"

       O guia seguiria na frente, sempre. Logo atrás deveria vir eu pq, por ser a única mulher, era a menor do grupo e andaria mais devagar e, atrás de mim, seguiriam os demais.



       Logo nos primeiros 200m eu me senti muito mal. Meu coração disparou e eu sentia muita falta de ar. Tirei os cachecóis e tentava controlar meu pânico e respirar. Então o guia disse que ele estaria o tempo todo controlando nossa cor e que ele saberia se não estivéssemos bem, mas que o medo caberia a cada um controlar. E aí brincou comigo dizendo que o coração dele também estava batendo. Nesse momento, fui me tranquilizando, a frequência cardíaca diminuiu e o ar voltou aos pulmões. Daqui pra frente, enfrentamos terrenos irregulares, cascalhos que não deixavam que firmássemos o pé no chão, rajadas de vento, mas tb neve acumulada (algo inédito para mim). Eu tive muita dificuldade e por algumas vezes olhei para o topo e ele parecia inalcançável. O ritmo da subida estava muito forte e continuava difícil de respirar. Tiago começou a ficar para trás, estava exausto e teve que tomar remédio porque é hipertenso. Achei que ele iria desistir. Jorge (o guia) eu e Marlon paramos e esperamos por Tiago e Franz. E eu tirava fôlego não sei de onde para gritar "camon guys!!! We can!" Tiago não desistiu. Então Jorge diminuiu o ritmo, o que para mim também ajudou. Durante todo o percurso incentivávamos uns aos outros. Em dado momento eu disse que não iria aguentar e os meninos disseram "para já com isso! Você tem mais coxa que nós todos juntos! Força! Continua!" Hahaha  E assim seguimos. Quando estávamos chegando ao final,  eu gritei que estava passando mal, com muita ânsia de vômito. A fumaça estava forte, era mais difícil respirar. Jorge gritou "mira! Falta muy poco!" E eu segui... com dor, com ânsia, com dificuldade para respirar, mas segui. E, de repente, Jorge gritou que havíamos chegado, que o grupo conseguira atingir a cratera do vulcão! Eu não tinha mais forças! Ajoelhei-me diante daquela cratera com mais de 300m de extensão, olhava para baixo e via a fumaça saindo da terra com força mostrando que havia vida naquele gigante adormecido. Chorei muito e acho que vou chorar toda vez que contar essa história. Todos nos abraçamos e eles disseram que eu sou uma mulher muito forte! Que eu estava de parabéns por ter sido tão guerreira!  Não consigo expressar com palavras todo sentimento contido naquele momento, mas ficará eternizado no meu coração. E, como disse Jorge, assim como o vulcão é a vida! Precisamos controlar nossos medos e seguir em frente superando as dificuldades.